Ontem à noite, na Comunidade Pedro Arrupe, tivemos uma Missa e um pequeno convívio para despedida dos Jesuítas que dentro em breve nos deixam!... No final da Missa, o Paulo leu este texto que em tudo identifiquei com esta nossa Missão! Partilho-o convosco!...
Nunca ninguém se perdeu...
Tudo é verdade e caminho.
Há um arrepio de medo que me percorre. É dia e está sol lá fora. Penso neste momento que "Tudo é verdade e caminho" sintetiza na perfeição o que acho que seja a resposta de criança à pergunta sem idade: há um sentido para a vida? A vida não se faz senão de erros, mas todos os erros não são caminhos tomados por engano, em vez daquele certo que se insinuava mais tranquilo e proveitoso. Não... Tudo é verdade e caminho. Todos os caminhos errados não são caminhos errados, porque são caminhos como os outros. A felicidade do caminho certo tem o mesmo valor da tristeza do caminho errado. Uma lágrima o mesmo valor de um sorriso aberto. O que tem tudo isto a ver com o Destino? É fácil de ver, mais doce ainda de entender no coração. Pensas que tens um caminho, enganas-te... Pois na verdade, todos os caminhos são teus, e todos esses caminhos são os caminhos por percorrer. Nunca temas perder-te, pois só pode temer perder-se quem sabe para onde vai, e quem pode saber tal coisa? Se tens medo de errar, temes a vida, temes viver e saber da verdade que aí reside. Nunca ninguém se perdeu. Não se pode perder quem nunca pode ter um só caminho, um fim de estrada guardado na sombra de uma árvore velha, um poço de água e fruta acabada de colher. Nunca ninguém se perdeu, porque todos os caminhos são os teus caminhos, e todos os erros, atalhos para outra verdade. Tudo é verdade e caminho. Sim... Quando pensas que nenhum sentido tem a tua vida, porque ninguém por ela olha e te orienta, devias antes saber que olha por ela a ignorância suprema, a senhora de todas as vidas, chamada Destino. Todo o seu corpo é uma descoberta, mãos fechadas no mistério, ou braços desnudos, tudo que brilha quando o descobres. É por desconheceres que finalmente conheces. Chama-se a isso o desígnio do viajante.
Fernando Pessoa
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